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sábado, fevereiro 25, 2006

[Fotografia de .
j.]
As mulheres sao os lugares recuados em que as maos
descobrem os filhos. Sao lugares fundos, luminosos
por dentro, habitados por extensoes espirituais, porçoes
parasitarias de semelhança que se mantem amarradas
por ataduras viscerais e que um dia, violentamente,
sao entregues `a luz.
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As mulheres sao como mesas e os filhos crescem
em seu redor. Com o descuido próprio de crescer,
os filhos desarrumam os afectos. Um dia abandonam
a casa e deixam os brinquedos espalhados pelo chao
e as mulheres ficam vazias para sempre.
[
Poemas de Jose Rui Teixeira,
in O fogo e outros utensilios da luz,
ediçoes quasi]
posted by .j. @ 10:16 da tarde,
,

As vezes, chove sobre a ideia que temos das cidades. Outras, anda-se e corrige-se inconsequentemente o passado, porque nunca é o passado que se corrige, mas a sua ferida ainda latente.
As vezes, damos connosco a falar para dentro e a querer saber coisas que deveriam ser óbvias, mas que nunca chegamos a perguntar, até ao momento.
- Há muito tempo, quando ainda tinhas um corpo tocável, andavas pela cidade como quem estava sempre em fuga ou em despedida. Sabias desse lado, a cançao triste dos lugares e, das casas, a muralha de silencio ou de recolhimento invernoso. Há muito tempo, conhecias o choro das cidades como quem conhece uma língua e decidiste fatal e magicamente construir aí uma hermeneutica, ou inventar cidades que agarrasses com o olhar, com as maos ou com o teu próprio choro.