6
sábado, fevereiro 25, 2006
[Fotografia de .j.]
As mulheres sao os lugares recuados em que as maos
descobrem os filhos. Sao lugares fundos, luminosos
por dentro, habitados por extensoes espirituais, porçoes
parasitarias de semelhança que se mantem amarradas
por ataduras viscerais e que um dia, violentamente,
sao entregues `a luz.
-------------------
As mulheres sao como mesas e os filhos crescem
em seu redor. Com o descuido próprio de crescer,
os filhos desarrumam os afectos. Um dia abandonam
a casa e deixam os brinquedos espalhados pelo chao
e as mulheres ficam vazias para sempre.
[Poemas de Jose Rui Teixeira,
in O fogo e outros utensilios da luz,
ediçoes quasi]
posted by .j. @ 10:16 da tarde, ,
A língua das tuas cidades.
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
As vezes, chove sobre a ideia que temos das cidades. Outras, anda-se e corrige-se inconsequentemente o passado, porque nunca é o passado que se corrige, mas a sua ferida ainda latente.
As vezes, damos connosco a falar para dentro e a querer saber coisas que deveriam ser óbvias, mas que nunca chegamos a perguntar, até ao momento.
- Há muito tempo, quando ainda tinhas um corpo tocável, andavas pela cidade como quem estava sempre em fuga ou em despedida. Sabias desse lado, a cançao triste dos lugares e, das casas, a muralha de silencio ou de recolhimento invernoso. Há muito tempo, conhecias o choro das cidades como quem conhece uma língua e decidiste fatal e magicamente construir aí uma hermeneutica, ou inventar cidades que agarrasses com o olhar, com as maos ou com o teu próprio choro.
[Post copiado da Maquina Royal, pelas palavras certas e a banda sonora ideal.]
posted by .j. @ 2:26 da tarde, ,
a ler... the child prodigy:
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
«Adora Svitak loves to read and write. Over the past 18 months she has had a 296-page book published and written 400 short stories and nearly 100 poems. Typing at 80 words a minute, she has produced 370,000 words while reading up to three books a day. The last novel she finished was Voltaire's Candide. Not bad for an eight-year-old.»
O artigo no Guardian, aqui: XXX.
Contas feitas, Adora Svitak, nascida em 1998, já leu tanto como um jovem normal de 20 anos de idade. Pois eu diria que já leu muito mais do que um jovem portugues de 20 anos. E eu, que ate considero ter um bom nivel de leitura, também estou a falar de mim. Agora, se ela percebe o que le, isso já é outro assunto.
Ps: Com certeza, esta miuda nao ve telenovelas. Nao deve ter tempo.
posted by .j. @ 12:02 da tarde, ,
Morangos com Açucar
[post copiado do Baggio Geodesico]
posted by .j. @ 10:56 da tarde, ,
post semi-geek
(Agora, graças ao Pocket Artist divirto-me a fazer desenhos no meu pocket pc. Claro que (ainda) nao passam muito deste minimalismo, mas é divertido)
Electrelane, "The Valleys"
(esta musica da-me vontade de fazer um filme)
posted by Unknown @ 10:19 da tarde, ,
km 31
sábado, fevereiro 18, 2006
"km 31 é um projecto pessoal que consiste fotografar todos os dias dos meus 31 anos (feitos a 30 de Janeiro) e depois escolher duas fotografias (díptico) como arquivo de cada dia."
Trabalho corajoso (do meu ponto de vista, claro, que teria começado num dia, com entusiasmo, e acabado no seguinte, sem paciencia) de Nelson d'Aires, um "bandido" de acordo com a biografia. Um projecto que invoca Blaufuks. Vou seguir estes bocados de dias com interesse, aqui XXX.
posted by .j. @ 2:53 da manhã, ,
[do acto de contemplar]
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
[The Holy Trinity - Andrei Rublev, 15th c.]
Do pescoço curvado ao cruzar de pernas e subtileza das maos, um intervalo para contemplar.
Mais aqui "Icons Explained" - a Guide to Byzantine Icons, Frescoes and Mosaics - from Constantinople to Macedonia to Russia, and around the world XXX.
posted by .j. @ 1:16 da manhã, ,
psssttt, atençao!
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Eh pá, já referi aqui a FEST Forward Magazine?!
XXX
posted by .j. @ 10:07 da tarde, ,
Dois poemas para rd:
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Este ano:
Futuro
Partir. E voltar.
Sonhar. E nao mais sonhar.
E nao mais partir.
E verdadeira melancolia, nao pelo que aconteceu
mas pelo que nunca chegou a acontecer.
A recordaçao do que nunca existiu.
Vou acender um charuto
e ainda nao, nao provo ainda a aguardente,
espero ainda um momento por aquilo que ja tenho.
Porque temos o tempo.
Estás dentro de mim como sombra num quarto.
Temos o tempo que passa.
[ Herman de Coninck, poeta belga,
in Os Hectares da Memoria ]
O ano passado:
Tu chamas-me, amor,
eu apanho um taxi
Tu chamas-me, amor, eu apanho um taxi,
cruzo a desmedida realidade
de fevereiro para ver-te,
o mundo transitório que me oferece
no assento de tras
uma oculta abobada de sonhos,
luzes intermitentes como conversas,
letreiros acesos na brisa,
que nao sao destino,
mas que estao escritos por cima de nos.
Eu sei que as tuas palavras nao terao
esse tom luxuoso, que os ares
inquietos do teu cabelo
guardarao a nostalgia artificial
do sotao sem luz onde me esperas,
e que por fim de manha
ao acordar-te,
entre esquecimentos a meias e detalhes
fora de contexto,
teras piedade ou medo de ti mesma,
vergonha ou dignidade, incerteza
e talvez o luxurioso mal-estar,
o golpe que nos deixam
as historias contadas numa noite de insonia.
Mas tambem sabemos que seria
pior e mais custoso
leva-las a casa, nao esconder o seu cadaver
no fumo dum bar.
Eu venho sem idomas desde a minha solidao,
e sem idiomas vou ate a tua.
Nao ha nada a dizer,
mas suponho
que falaremos nus sobre isto,
pouco depois, tirando-lhe importância,
avivando os ritmos do passado,
as coisas que estao longe
e que ja nao nos doem.
[ Luis Garcia Montero,
in Qual é a minha ou a tua língua? ]
[ Keskisenkatu, Tampere, Finlandia 2005 | fotografias de .j. ]
posted by .j. @ 2:08 da tarde, ,
A [In-]Consciencia das Coisas
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Desde a minha infancia que o sol me deprime incrivelmente e com uma facilidade olimpica. Num destes Veroes, por que passei nos ultimos anos da minha vida, revivi uma das inumeras situaçoes de infancia em casa da minha avo. Estava so, sentado a mesa, de braços cruzados a olhar a claridade da luz sobre a toalha da mesa e a divagar sobre a nao-vida dos objectos e aquilo que eles poderiam assistir e observar, caso tivessem uma existencia consciente. Talvez por ela estar morta, eu estivesse, inconscientemente, a projectar uma vida ja extinta, em objectos que me traziam a memoria o seu rosto... Talvez estivessem impregnados com o seu espirito e ela vivesse atraves deles. Mas pareceu-me ouvi-la dizer: “Nao faz mal, nao acreditarem em ti. Tu sabes que e verdade e a avo tambem sabe.” E isto bastava-me.
“Ha tres tipos de forma de vida: a mineral, a vegetal e a animal, constituidas pelos seres vivos, animais e plantas. As restantes formas de existencia dao pelo nome de seres inanimados.” E isto que todos os homens e mulheres em miniatura ouvem nos primeiros quatro anos de escola. Mas, e se por algum acaso um cientista, de um pais distante e desconhecido descobrisse que os objectos tem uma vida propria, desconhecida e dialogam em segredo entre si? Penso de forma frequente neste tema e confesso que me causa algum tipo de inquietaçao que nao consigo bem explicar...
Nao sei explicar bem o porque desta parnafernalia de sensaçoes difusas e confusas, mas o certo e que me trazem sempre ondas de melancolia que me submergem sempre num mar de lembranças perdidas. Uma vez ou outra, la venho a tona quando alguem me puxa pelo colarinho e penso se o que pensei e mesmo verdade, se pensei sobre aquilo que pensei, se as imagens longas que me trespassaram o pensamento era reais ou apenas um delirio da minha mente.
posted by Anónimo @ 11:06 da manhã, ,
x
domingo, fevereiro 12, 2006
Living Proof | Cat Power
posted by .j. @ 7:18 da tarde, ,
Objecto Cardiaco
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Caso para dizer: tem Maiakovski, tem bom coraçao.
posted by .j. @ 8:33 da tarde, ,
começa assim:
"Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E entao pensei: vou-te escrever."
posted by .j. @ 8:29 da tarde, ,
A Marriage Moment
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
O que fazer quando nao ha nada para fazer? Passear no Vimeo! Esta cena é viciante, indecente e infinita. Ah, se é!
posted by .j. @ 5:30 da tarde, ,
Elias Canetti e Iris Murdoch
«Elias Canetti» foi o ultimo nome que Iris Murdoch reconheceu, dois meses antes de morrer, vitima de Alzheimer.
[Elias Canetti]
A ler: The God-monster's version
"Once they had become lovers Murdoch would precisely time her visits from Oxford, fitting in Canetti as if for a tutorial. The sex could hardly be more different from her own accounts of power and dominance. "She lay motionless and unchanging, I hardly noticed that I entered her, I did not sense that she noticed. Perhaps I would have been more likely to have sensed something if she had moved a little in response."
Yet it seems that for all his alleged attempts at control, she used him just as much. She needed ideas and characters for her novels and she gets this "booty" from her many and varied lovers (...) Soon he sees her as a pirate who robs each of her lovers not of his heart, but of his mind."
(...)
"Marie-Louise Motesiczky, an Expressionist painter and pupil of Max Beckmann, was intimate with him for half a century, painting several personally telling portraits, just as Murdoch and Veza put him into their fiction."
posted by .j. @ 11:37 da manhã, ,
JCB song
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
Ric, este post é dedicado a ti :) Acho que vais gostar deste video... (todo o site é maravilhoso)... Ver aqui JCBSONG
E mais uma coisa, eu VOU ao concerto dos DOPO (achas que iria perder um momento desses? nem pensar!)
posted by .j. @ 11:34 da manhã, ,
"Last Blues, To Be Read Someday"
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Eu sei que a .j. já fez um post sobre o primeiro concerto dos DOPO, o projecto musical do meu carissimo colega de trabalho, mas lembrei-me de deixar aqui o cartaz.
P.S.: vamos la estar a aplaudir (ou a envergonha-lo?); que pena que n?o vais .j.
P.S.2: ja agora, sabias que vou fazer o primeiro (e ultimo?) videoclip deles? Vai ser uma animaçao em lapis de cera e pastel :)
posted by Unknown @ 10:30 da tarde, ,
a ler o incrível livro: "o mar, o mar"
"She has a luminous presence and the visual metaphor that my head created was of an electric light bulb in that gloomy corner, glowing, casting out darkness. I suppose this is what people of a mystical bent call an 'aura'." - Tom Phillips
Dame Iris Murdoch Oil on canvas, 80 x 55 cm, 1984-86 | Dame Iris Murdoch Oil on board, 20.3 x 15.2 cm, 1985
Tom Phillips painting Iris Murdoch
(Photograph by Leo Phillips, 1986)
(Ver em ponto maior aqui XXX)
Dame Iris passed away in 1999 from complications related to Alzheimer's Disease.
posted by .j. @ 10:56 da manhã, ,
sem vergonha na cara:
roubei descaradamente esta musiquinha ao Aspirina B:
IT'S ONLY TIME (Stephin Merritt, 2004)
Why would I stop loving you
a hundred years from now?
It's only time.
...
Years falling like grains of sand
mean nothing to me.
It's only time.
...
If snow won't change your mind, let it fall.
The snow won't change my heart, not at all.
...
posted by .j. @ 10:44 da manhã, ,
rascunho #9
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
do lápis ? tinta:
...de facto n?o ficou lá muito parecido contigo, mas ficou bonita. Há dias em que até desenho mais ou menos.
Andrew Bird's Bowl of Fire, "Glass Figurine"
(apesar de nao parecer esta musica é de 1998; a quem quiser descobrir mais deste delicioso retro swing recomendo o disco de onde a tirei: "Thrills". Aliás, vale mesmo a pena conhecer Andrew Bird - qualquer disco.)
P.S.: como podes ver .j., eu disse que hoje punha aqui um desenho e uma musica. (espero que estejas melhor quando leres isto...)
posted by Unknown @ 10:51 da tarde, ,