Dois poemas para rd:
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Este ano:
Futuro
Partir. E voltar.
Sonhar. E nao mais sonhar.
E nao mais partir.
E verdadeira melancolia, nao pelo que aconteceu
mas pelo que nunca chegou a acontecer.
A recordaçao do que nunca existiu.
Vou acender um charuto
e ainda nao, nao provo ainda a aguardente,
espero ainda um momento por aquilo que ja tenho.
Porque temos o tempo.
Estás dentro de mim como sombra num quarto.
Temos o tempo que passa.
[ Herman de Coninck, poeta belga,
in Os Hectares da Memoria ]
O ano passado:
Tu chamas-me, amor,
eu apanho um taxi
Tu chamas-me, amor, eu apanho um taxi,
cruzo a desmedida realidade
de fevereiro para ver-te,
o mundo transitório que me oferece
no assento de tras
uma oculta abobada de sonhos,
luzes intermitentes como conversas,
letreiros acesos na brisa,
que nao sao destino,
mas que estao escritos por cima de nos.
Eu sei que as tuas palavras nao terao
esse tom luxuoso, que os ares
inquietos do teu cabelo
guardarao a nostalgia artificial
do sotao sem luz onde me esperas,
e que por fim de manha
ao acordar-te,
entre esquecimentos a meias e detalhes
fora de contexto,
teras piedade ou medo de ti mesma,
vergonha ou dignidade, incerteza
e talvez o luxurioso mal-estar,
o golpe que nos deixam
as historias contadas numa noite de insonia.
Mas tambem sabemos que seria
pior e mais custoso
leva-las a casa, nao esconder o seu cadaver
no fumo dum bar.
Eu venho sem idomas desde a minha solidao,
e sem idiomas vou ate a tua.
Nao ha nada a dizer,
mas suponho
que falaremos nus sobre isto,
pouco depois, tirando-lhe importância,
avivando os ritmos do passado,
as coisas que estao longe
e que ja nao nos doem.
[ Luis Garcia Montero,
in Qual é a minha ou a tua língua? ]
[ Keskisenkatu, Tampere, Finlandia 2005 | fotografias de .j. ]
posted by .j. @ 2:08 da tarde,
1 Comments:
- At 8:25 da tarde, Luís Ricardo Duarte said...
-
Duas palavras para .j.
Gu gu :)
PS: e as outras duas também :)
PS: Muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito
PS: Desmedidamente :)