Dia Mundial da Poesia, Primavera (Parte II)

O Poema

I

Um poema crece inseguramente
na confusao da carne.
Sobe ainda sem palavras, so ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplendida violencia
ou os bagos de uva de onde nascem
as raizes minusculas do sol.
Fora, os corpos genuinos e inalteraveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silencio
- a hora teatral da posse.

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E ja nenhum poder destroi o poema.
Insustentavel, unico,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das coisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do misterio.

- E o poema faz-se contra a carne e o tempo.


[Estava a olhar para o post com poemas de Rilke e pensei: «ja que coloco poemas do meu poeta estrangeiro preferido, entao tambem devo colocar dois poemas dos meus poetas portugueses preferidos.» Assim, fui buscar «o poema» de Herberto Helder, esse GRANDE poeta portugues!]

posted by .j. @ 11:56 da manhã,

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