Viver até aos trinta:

«Estava aqui sentado e sabes o que cogitava para comigo? Se nao tiver fe na vida, se perder a confiança na minha mulher amada, se perder a fe na ordem das coisas e se, pelo contrario, me convencer de que tudo e´ um caos desordenado, maldito e,talvez, diabolico, se me atingirem todos os horrores da desilusao humana, desejarei na mesma viver, e ja que levei `a boca esta taça, nao a largarei ate que beba a ultima gota! Alias, aos trinta anos sou capaz de largar a taça, mesmo que nao a tenha bebido ate ao fim, e de me afastar... nao sei para onde. Mas, ate aos trinta, sei muito bem que a minha juventude vencera tudo, vencera qualquer desilusao, qualquer repugnancia pela vida. Tenho perguntado a mim mesmo muitas vezes: havera no mundo um desespero que possa vencer em mim esta sede de vida, frenetica e, talvez, indecente? Cheguei `a conclusao de que, pelos vistos, nao existe, pelo menos ate aos tais trinta anos; e, ao chegar la, repito, talvez ja nao anseie por nada, assim me parece.»


[p.283, Livro 5, Capitulo 3, Segunda Parte,
Os Irmaos Karamazov, de Fiodor Dostoievski,
Editorial Presença
]

posted by .j. @ 7:50 da tarde,

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