"Em La Colónia, edifício de veraneio a onze quilómetros de Granada, adaptado a cárcere, Federico García Lorca passou a sua última noite. Pediu um padre para se confessar, mas não havia nenhum disponível. Quis lembrar-se das palavras do Credo, mas só chegou ao meio da oração. «A minha mãe ensinou-mo inteiro, mas já me esqueci... Serei condenado por isso?», perguntou ao guarda que o assistiu.
Na manhã seguinte, ele e mais três prisioneiros foram fuzilados; não no Barranco de Viznar, como se afirmou durante muitos anos, mas perto da Fuente Grande.(...)
O último manuscrito autógrafo de Lorca é uma amarga ironia. Durante as suas horas de detenção na sede do Governo Civil tinham-no convencido de que o libertariam se contribuísse com uma quantia para a Esquadra Negra. Chegou por mão própria um bilhete à Huerta de San Vicente: Peço-te, papá, que entregues a este senhor mil pesetas como donativo para as forças armadas. E Don Federico anuiu, oferecendo essa quantia (muito elevada, na altura) àqueles que lhe assassinavam o filho."

Aníbal Fernandes, na introdução de "Anjo e Duende",
Federico García Lorca, Assírio & Alvim, Abril 2007

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